- 14 de dezembro de 2017
- Posted by: Diomar
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Quadras e raias ganham em tecnologia e ajudam atletas a superar índices. Riscos de lesões também são reduzidos nas competições.
Cada vez mais os desportistas dependem de bons acessórios para quebra de recordes, seja um tênis com material mais leve e maior aerodinâmica ou roupas que permitam melhor transpiração. As quadras ou pistas de atletismo com pisos adequados a cada modalidade também têm um papel importante. Os ajustes na interface entre o homem e o solo estão sendo feitos para garantir ganhos de milésimos de segundo nas provas de corrida, maior impulsão nos saltos, agarre nos momentos de lançamento de dardo e martelo ou empuxo nas saídas das provas de velocidade.
O ponto de partida de qualquer projeto de quadra poliesportiva deve ser a escolha de um material que evite danos à saúde dos esportistas e permita uma prática adequada do esporte.
A existência ou não de cobertura determinará as principais características da quadra. Ao projetar qualquer instalação esportiva ao ar livre é preciso orientá-la corretamente no terreno. Segundo o arquiteto Eduardo de Castro Mello, especializado em arquitetura esportiva há mais de 30 anos, o eixo longitudinal (maior) da quadra deve acompanhar a linha Norte-Sul. “Caso contrário, a luz solar ofuscará a vista dos jogadores”, diz.
As quadras oficiais, entretanto, devem, obrigatoriamente, ser cobertas. Para outras modalidades, como voleibol, basquete e futsal, não há essa exigência. Vale lembrar que uma cobertura demanda maiores investimentos.
As quadras oficiais devem atender aos regulamentos internacionais de cada modalidade. São determinadas as dimensões máxima e mínima; as marcações das quadras e das faixas de segurança; a característica do material do piso; a altura interna (no caso de quadra coberta) e os acessórios (tabelas, postes, redes, gols e balizas para futsal e handebol). Para uma quadra não-oficial, como forma de comportar os esportes mais difundidos (futebol de salão, vôlei, basquete e handebol), o ambiente deve apresentar uma dimensão de, no mínimo, 25 m por 45 m. Cada jogo requer pisos específicos. Um piso para futebol de salão, por exemplo, deve ser antiderrapante para evitar que o jogador escorregue muito. Já para o vôlei, que requer contato constante do jogador com a superfície, deve ser mais liso (veja tipos de quadras).
Os fornecedores, geralmente, são responsáveis pela colocação dos pisos, pois contam com mão-de-obra especializada e com equipamentos avançados, o que garante maior controle dos materiais e do nivelamento. “O final da obra conta com muitas empresas e serviços diferentes que devem ser programados para evitar estragos nos trabalhos já executados”, diz o arquiteto Sérgio Teperman.
Materiais
A principal característica desejável nos pisos é a capacidade de amortecer impactos e evitar danos à ossatura, musculatura e tendões dos atletas.
O piso ideal deve absorver impactos e não ser muito frio, já que algumas modalidades requerem contato com o piso. Além disso, a superfície deve ser lisa para não provocar lesão e, ao mesmo tempo, ter aderência para permitir que, durante uma corrida, o atleta mude de direção sem escorregar. Uma constatação é que, muitas vezes, a preferência de atletas profissionais recai sobre pisos mais tradicionais e que nada têm a ver com a corrida tecnológica.
Essas soluções, embora também tenham evoluído muito por conta da concorrência dos pisos sintéticos, são de manutenção mais difícil e, para oferecerem bom desempenho, precisam estar absolutamente bem aplicadas e conservadas. Veja a seguir alguns tipos de piso para atividades esportivas.
Madeira – Os especialistas são unânimes em classificar o piso de madeira como o mais adequado à prática de esportes.
“O piso flutuante, feito com réguas de madeira e camada amortecedora embaixo é aquele que atende a todas as atividades e não prejudica os usuários”, diz Mello. Uma das maneiras de proteger a superfície da madeira é a colocação de piso removível, uma espécie de tapete feito à base de borracha, poliuretano ou PVC.
É utilizado em áreas internas, geralmente para a realização de jogos de basquete, vôlei, futebol de salão e handebol.
As espécies de madeira com dureza acima de 600 kgf/cm2 são as mais indicadas (veja tabela). Quanto menor o índice de contração da madeira, mais estável ela se apresenta. Para cada região do Brasil há um valor de equilíbrio da umidade que deve ser respeitado. Em São Paulo, por exemplo, a madeira deve estar com o teor de umidade entre 12 e 15% , em equilíbrio com a umidade relativa do ar. Quanto menor for a largura da tábua de madeira, menor será a trabalhabilidade com a umidade. Longitudinalmente deve existir o menor número de juntas, que devem estar desencontradas para evitar pontos frágeis.
As tábuas são encaixadas umas nas outras por sistema macho-e-fêmea e fixadas nos barrotes com pregos. Uma vantagem dos ginásios climatizados é que não há problemas de movimentação da madeira.
Cimentício – Apesar de ainda muito comuns no Brasil, não são recomendáveis, pois não absorvem impacto. “Mesmo que a solução seja aparentemente mais barata e de fácil manutenção, os atletas podem se cortar ao cair sobre pontos descascados”, adverte o arquiteto Sérgio Teperman. Esse tipo de piso é indicado para ambientes externos, apresenta boa resistência e pode ser usado para qualquer tipo de evento sem necessitar proteção. Para tornar a superfície mais atraente e menos áspera, é recomendável pintar a quadra com tinta acrílica, uma solução econômica e muito usada em áreas de recreação escolar.
Asfáltico – Apresenta vantagens com relação ao cimentício por ser um pouco mais macio. Feito com camadas de pedra e brita misturadas com derivados de petróleo, o piso exige pintura com tinta acrílica. Além de ser mais econômico do que os outros, proporciona bom acabamento e não é tão danoso à saúde dos atletas.
Monolítico – Feito de resina poliuretânica com grânulos de neoprene absorve bem impactos e dispensa acabamento. Colocado sobre uma base de concreto ou asfalto, o produto atinge 1 cm de espessura depois da cura e é durável.
“Em caso de eventuais danos, o piso requer corte de um pedaço para a aplicação de massa, que deverá ser refeita”, explica Mello. O processo requer mão-de-obra especializada.
Gramas artificiais – Devem contar com uma camada drenante como nos campos de futebol com grama natural, feita de pedra com material betuminoso para aglomerar vazios e evitar empoçamentos. Os goleiros precisam usar um uniforme que o cubra totalmente, pois o material pode queimar a pele caso a pessoa deslize a uma velocidade considerável.
Sintéticos – Com soluções apropriadas à não-reflexão de luz, têm
a vantagem de poderem ser oferecidos em cores que sejam adequadas
à transmissão e/ou aos patrocinadores. Nas quadras provisórias, montadas apenas para eventos esportivos sazonais, tais pisos, fornecidos em rolo e montados sobre camadas de amortecimento diretamente sobre o piso, são a única solução possível. Os pisos sintéticos mais simples são revestidos por resinas acrílicas/polivinílicas, com espessura total de 10 mm.
O acabamento deve ser liso. Há alternativas mais sofisticadas com camadas permeáveis de aglomerado de grânulos finos de borracha vulcanizada SBR e poliuretano, com selante e revestimento de resinas poliuretânicas.
O importante é que a superfície seja resiliente e macia, com eficiente amortecedor e superfície não-abrasiva, para proteger os usuários nas quedas e os impactos nas articulações.
Tipos de quadra
O mercado trabalha com quatro tipos básicos de piso, que servem a quase todas as modalidades: quadras de tênis, pistas de atletismo, quadras e salas poliesportivas e grama artificial.
Veja as características e necessidades de alguns tipos de quadras:
Poliesportivas
As quadras externas geralmente recebem pisos de base asfáltica e resina acrílica.
Os pisos monolíticos possuem juntas de dilatação apenas na sub-base, não aparentes na superfície, o que evita ferimento dos atletas. Em quadras internas, a base emborrachada permite o deslizamento nos “mergulhos” dos jogadores de vôlei. Uma pintura de poliuretano antiofuscamento impede a reflexão dos holofotes.
O ideal nessas quadras é que os equipamentos possam ser removíveis. Por isso, há fabricantes que oferecem um sistema de vedação para tampar os buracos deixados por suportes de jogos que não estão sendo realizados. Na plataforma de petróleo da Petrobrás (P-38), localizada a 175 km da costa, na Bacia de Campos no Rio de Janeiro, foi instalada uma quadra poliesportiva de 250 m2 para o lazer dos funcionários, que chegam a passar 15 dias em alto-mar.
A quadra é aprovada pela Federação Internacional de Basquete e pelas Federações Americanas de volêi, tênis e hockey. “É formada por placas modulares, autodrenantes, montadas e adequadas a qualquer tipo de superfície (interna ou externa) como cimento, concreto, madeira, asfalto, pisos de vinil ou pisos cerâmicos”, diz Márcio da Graça Veiga, diretor técnico da Recoma.
Salas de ginástica
Podem ser executadas com piso elástico, cobertura de vinil, acrílico, poliuretano e base emborrachada, para que o suor dos atletas não impregne o piso. As salas de musculação precisam suportar a queda de pesos e arrastamento de aparelhos. “O piso sintético colorido tem sido muito utilizado nesses locais, com bases elásticas mais ou menos macias”, diz Mello.
Voleibol
Talvez por não ter tanto apego à história, é um dos esportes que mais introduz inovações em suas regras. Vence neste caso o piso que fornecer melhores condições para os praticantes, geralmente pisos em mantas ou moldados sobre bases elásticas e cobertura de resina poliuretânica colorida.
Pista de atletismo/raia olímpica
Há pisos econômicos e sofisticados para esse tipo de esporte. Os mais comuns são moldados in loco e podem ser simples, produzidos a partir de uma camada flexível de grânulos de borracha SBR, com camada de fundo colorido de resina poliuretânica e acabamento colorido de poliuretano de alta resistência com inibidores de raios UV.
Os mais sofisticados usam a mesma base, mas o acabamento é texturizado com resina de poliuretano colorida e grânulos finos
de EPDM. Este permite o uso de solados de cravos e pode ser executado com espessuras variáveis.
Os pisos de mantas de borracha natural são os preferidos dos atletas. As mantas são fornecidas em rolos que são justapostos e colados com juntas imperceptíveis. Os pisos devem ser construídos sobre base de concreto, sem ondulação, com caimento transversal de aproximadamente 1% para a borda interna, onde uma canaleta coleta a água de chuva.
As pistas profissionais podem ser construídas também sobre pavimentos asfálticos, sem ondulações, e com sub-base que garanta a permanente estabilidade do solo. Nas Olimpíadas, o piso utilizado é de mantas de borracha natural contínuas e vulcanizadas.
Tênis
Demandam uma excelente planicidade. A quadra de grama sintética tem as mesmas características de colocação e drenagem de uma quadra de futebol society. No entanto, com essa técnica, o pique da bola é muito baixo e não agrada aos tenistas brasileiros, pois o comportamento da bola é muito diferente do salibro ou piso sintético.
Campos de futebol
A base ideal para gramados sintéticos é a asfáltica drenante, com espessura média de 7 cm, sobre a qual é executada uma camada de amortecimento também permeável com aproximadamente 20 mm, composta de grânulos de borracha SBR e poliuretano. A base asfáltica deve apresentar um caimento mínimo de 0,5%. Para a grama sintética há materiais de polipropileno fibrilados e não-fibrilados.
Os fios variam de curtos (28 mm) a longos (50 a 60 mm). “Estes últimos são preenchidos de areia e granulado fino de borracha até uma determinada altura, o que permite o uso de chuteira, apresentando um comportamento próximo ao da grama natural”, diz a engenheira Ida Fumiko Teramoto, da Lisonda. No caso de instalação sobre lajes ou pisos de concreto, recomenda-se a colocação de uma manta espessa de geotêxtil agulhado. Nos carpetes mais espessos o sistema poderá acumular maior quantidade de água e até saturar em chuvas fortes e contínuas.
Para o futebol, o Brasil não assimilou, ainda, os pisos sintéticos em substituição à grama natural. Com a grama artificial, as vantagens seriam a ausência de corte, a uniformidade da superfície e a boa drenagem. Há modelos com tufos de grama mais altos de polipropileno e poliolefinas, alguns entremeados de náilon, que prometem um comportamento próximo da grama natural, com maciez e suavidade ao toque, com a vantagem de poder oferecer camadas de amortecimento incorporadas ao conjunto com a colocação de areia e flocos de borracha de EPDM entre os fios da grama.
Preparo de solo
As sub-bases precisam estar compactadas a 98% e possuírem um colchão drenante. Os solos brejosos ou turfosos devem ser substituídos, já que todas as quadras devem ser executadas em local seco. É recomendável a execução de linhas de drenagem no terreno, de forma a evitar a umidade ascendente que poderá danificar todos os tipos de pisos esportivos. As bases são feitas em camadas sucessivas de brita com capeamento asfáltico ou concreto.
A drenagem das águas pluviais é importante para evitar a formação de poças que atrapalhem as atividades esportivas. Os pisos impermeáveis necessitam de planos levemente inclinados e devem apresentar, no mínimo, duas águas com declividade de 0,5% que partam do centro da quadra para os fundos e para a frente. Os materiais sintéticos requerem planicidade e um caimento perfeito para permitir um bom escoamento da água, diferente do saibro, piso autodrenante que requer um sistema sob a superfície.
Segundo Eduardo Mello, os materiais para as quadras e pistas disponíveis no Brasil são de excelente nível, equiparando-se aos existentes na América do Norte e Europa, centros de maior desempenho na indústria de material esportivo. No entanto, o maior problema das quadras brasileiras é o custo de execução e manutenção. “As condições de conservação e desgaste das quadras brasileiras deixam a desejar. É comum encontrar quadras e pistas públicas deterioradas ou inadequadas para a prática esportiva”, diz Mello.
Para as quadras internas, as maiores inovações são os pisos flutuantes de madeira em placas desmontáveis, semelhantes às utilizadas nos jogos do campeonato americano de basquete (NBA). Para os demais esportes, os pisos de mantas de material sintético são os mais modernos e permitem grande flexibilidade de usos dos ginásios. Cada modalidade tem um tipo de tapete próprio, com textura e espessura determinada. Sérgio Teperman lembra que outras grandes inovações são os equipamentos eletrônicos de controle de jogo e das performances.